quarta-feira, 25 de setembro de 2013

No canto da noite, enquanto no meu canto, eu descubro um bom canto e esse é o meu encanto. Seja como for, seja o canto do banheiro ou o canto das minhas cordas vocais, mas o bom mesmo é o encanto do canto do meu quarto.
Contanto que enquanto os cantos nas esquinas, nos bares a vozes entoam cantos. Elas não são reais, são? Outros são tão lindos quanto os meus cantos, ou melhores até. Que meu canto encantado seja igualado a todos os cantos no canto do meu quarto.
Apenas meu. As minhas vozes. Eles estão aqui, agora silencio.

Drica Ponciano

Carta Suicido 

Suicidei-me. A culpa não é de ninguém, apenas minha, por não ter foças o suficiente.  Sempre acreditei que cada pessoa recebe a cruz que é capaz de carregar. Porém, fui fraco, covarde, medrosamente fugi.
Tenho uma mulher, dois maravilhosos filhos. Uma casa confortável, carro do ano... Poderia dizer que tenho tudo que alguém precisaria para ser feliz. E eu me pergunto por que não sou feliz se fiz tudo que me pediram? Se sempre ajudei todos que necessitaram? Todos me falaram que eu encontraria a felicidade quando finalmente terminasse os estudos, quando conseguisse um emprego estável. Quando encontrasse uma companheira fiel. Falaram-me que a encontraria quando formasse uma família. Mentira.
Não culpem os que me aconselharam, sempre foi eu quem pedi. Escolhas erradas. Caminho errado.
Naquela época, eu tinha 13, nunca fui de muitos amigos, mas tinha um especial, Lucio. Era o único e melhor amigo. Ele era bonito, engraçado, fiel, humilde... Lembro do seu belo sorriso, de seu olhar quando estava feliz e de seus abraços quando estava triste. Ele foi sim, a melhor coisa que me aconteceu. Sempre nos metiam em confusão, mas eu não me importava. Eu o amava. Ele dizia que me amava também, mas aquilo não era certo. Porém suas palavras sempre me confortavam e me davam forças.

Aos 19, o destino mudou nossos caminhos. Lucio teve que se mudar com sua família para outra cidade. Não culpem Lucio, nem sua família. Eles estavam apenas em busca de uma vida melhor. Sinceramente, acho que nunca superei a dor que senti ao vê-lo partir. Lembrando sempre de suas palavras, segui meu caminho, mesmo com toda aquela dor  que me assombrava. Dia após dia. Um vazio. Pedi conselho para todos, em todos os lugares. Vivi de tudo, conquistei tudo, mas ainda faltava alguma coisa em minha vida.

Agora aos 35 vejo que sempre caminhei na direção contrária. Não há tempo para voltar. Andei muito, fui muito longe. Morro agora, com a pistola na minha boca.                            Não é engraçado? Finalmente, consumido pelo vácuo. Não os culpem.

­­-Carta encontrada no bolso do suicida Pedro Miguel, pela equipe da autopsia.

Drika Ponciano 
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